segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Jovem Guarda. Ladeando a discussão política.


A Jovem Guarda foi responsável pelos primórdios do rock brasileiro. incorporando as guitarras, os cabelões e a fidelidade às regras criadas por Elvis e todos os outros fundadores do rock nos anos 50. Com versões de rocks estrangeiros, os grupos nacionais trouxeram para as rádios e principalmente para a TV, toda a atmosfera do rock dos anos 60. As experimentações destes grupos foram derrubando a ‘ditadura das versões’ e abrindo espaço para compositores e arranjadores nacionais.
Com um estilo narrativo de suas letras inspiradas em Histórias em Quadrinhos, um ritmo veloz e acordes quadrados, a Jovem Guarda foi se firmando como movimento. Em meados dos anos 60, o sucesso de alguns programas da TV fazia desta, uma vitrine perfeita do que acontecia no cenário da música no Brasil. Com o fim da transmissão dos jogos de futebol pela televisão em 1965, abriu um espaço precioso na grade de programação destas emissoras. A TV Record de São Paulo “rapidamente escalou um time para esse horário: Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Sérgio Reis, Renato e seus Blue Caps, Martinha, Goldem Boys, entre outros. Era o programa Jovem Guarda, que sucesso após sucesso, conseguiu conquistar um público enorme e transformou-se no ritmo das multidões adolescentes”. (BAHIANA, 1983, p. 41). Roberto Carlos comandava o programa, era o Rei da juventude, seus súditos eram jovens que não estavam nem no poder nem o contestava, moravam geralmente nas periferias das grandes cidades e viam na Jovem Guarda uma possibilidade de afirmação através de atitudes de uma rebeldia inocente, projetada em roupas, cabelos, sonhos com carros, motocicletas, velocidade, no máximo as inconseqüentes turmas de ruas, as brigas machistas, os tremendões valentões, tudo em nome de, de uma confusão, uma garota, um carrão. Derrubar as instituições burguesas? O poder? A escola? A família? Não era bem por aí.
Com esta atitude a Jovem Guarda tinha sua qualidade questionada e suas intenções colocadas em duvida pelos artistas e intelectuais de esquerda, mas apesar desta situação, fazia muito sucesso, sobretudo com os jovens de classe média baixa não universitários, que pareciam escapar do alcance estético – ideológico da chamada MPB. A desvinculação de Roberto Carlos do programa Jovem Guarda, a superexposição ao consumo, cansaço e esgotamento criativo de seus participantes foram alguns dos elementos que levaram extinção do movimento no inicio de 1969.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Política em notas musicais.

O Brasil dos anos 60 passou por diversas mudanças em sua vida política. O processo de democratização política e social, que obteve grande mobilização popular em apoio às reformas de base, propostas pelo presidente João Goulart, foi interrompido pelo golpe militar de 1964 que se desencadeou na implantação de um regime militar, provocando uma reviravolta na vida política do país. A decretação dos Atos Institucionais e Complementares (mecanismo pelo qual o governo militar disponibilizava para governar sem respaldo constitucional e do Congresso), como o AI-2 e o Ato Complementar nº1, dentre outros que abordaremos em momentos mais adequados, estabelecia eleições indiretas para a Presidência, a dispersão dos partidos políticos, estabelecendo a existência de apenas dois partidos políticos, a Arena, partido de apoio ao governo e o MDB, (Movimento Democrático Brasileiro) partido de oposição moderada ao governo. Diante deste cenário de repressão política o caminho das artes se mostraram viáveis para a expressão política.
Como vimos em matéria passada, a bossa nova foi a expressão de uma mudança da conceituação da música popular brasileira, com sua mudança rítmica e temática do samba. Esta mudança de temática se consolida com elementos de uma preocupação social, coletiva presente mais consistentemente na chamada música engajada, nascida no seio da bossa nova. Os temas: garotas de Ipanema, os barquinhos, as flores, para alguns jovens de esquerda era um bom sinal da submissão ao imperialismo capitalista. O primeiro compositor ligado a bossa-nova a demonstrar inquietação em fase do excesso de informação cultural estrangeira no movimento foi Carlos Lira. As primeiras músicas consideradas de protesto ou engajadas foram: Zelão, de Sergio Ricardo, e Quem Quiser Encontrar O Amor, Geraldo Vandré e Carlos Lyra. Estas músicas traziam alguns elementos que rompiam com o estilo de João Gilberto, mantendo a sofisticação instrumental, tal como a complexidade harmônica e sutileza vocálica.
A chamada música engajada ou de protesto tornou-se o primeiro sinônimo de MPB (música popular brasileira) como expressão de um país representado em todas suas particularidades regionais, como a vida no sertão nordestino e nas favelas e suas necessidades políticas.

Capa disco Carlos Lira 1963


terça-feira, 8 de setembro de 2009

A música como expressão política.

No universo da música popular no Brasil da década de 60, aspirava-se uma reorganização do que se entendia como canção popular brasileira. A soma de diversos temas e estilos musicais tinham em comum, a vontade de ‘atualizar’ a expressão musical do país. Desta mutação pela qual passava a canção popular, uma das questões centro, era a discussão em torno do engajamento, político-social, das artes, ou a produção da arte pela arte, como muitos designavam a arte alienada. Este debate se projetou no campo musical, em uma segregação criada primeiramente entre o Fino da Bossa, programa exibido pela TV Record, às quartas feiras às 20hs, e a Jovem Guarda, programa exibido pela TV Record, aos domingos, às 17hs, posteriormente as atenções se voltaram para os festivais. Para o grupo dito engajado foi a Jovem Guarda que introduziu na música brasileira, a guitarra elétrica, símbolo maior do imperialismo estadunidense, não passando assim de um bando de jovens alienados e submissos á influencia maléfica do imperialismo Americano. Essa discussão entorno do engajamento através das artes, no caso a música, deve-se ao fato da tomada do poder pelos militares em 1 de Abril de 1964, implantando a partir desta data um regime militar no Brasil, se desenvolvendo em ditadura e se estendeu até meados da década de 1980.
Com o advento da bossa nova, assiste-se uma apropriação de elementos do samba tendo predominância de uma linha harmônica, ditada pelo violão, proporcionando um afastamento do samba em sua raiz popular. A bossa-nova surge em fins dos anos 50, com uma proposta de valorização da música brasileira, embora tenha grande influência do jazz considera o samba como a música verdadeiramente nacional. Com essa a mudança temática, os sambas da bossa-nova, deixaram de abortar temas dos sambas canção, do dito samba ‘quadrado’. O impacto da bossa nova potencializou um conjunto de tensões culturais anteriores, mas que ressurgiram devido a incorporação de novos seguimentos sociais no panorama musical, como a classe média universitária, num momento em que o país busca sua forma de inserção na modernidade.