sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A repressão aumenta, a desobediência também.



Os anos 70 foram marcados pela consolidação do regime militar implantado com o golpe de 1964. Esta consolidação deveu-se a um dispêndio de violência repressora, com censuras, prévias e póstumas de todos os meios de comunicação e nos campos: da arte, cultura, manifestações sociais. A presença castradora da censura e a constante repressão a quem ousava protestar implicaram na prisão, no exílio e até mesmo a morte de alguns deles e também a eclosão da resistência armada ao regime, como a guerrilha rural e ações urbanas a exemplo de, assaltos a bancos, seqüestros de embaixadores, que serviam de moeda de troca para a liberdade de presos políticos.

A partir da implantação do AI-5 em 1968, que se desenhou o quadro de censura e exílio dos principais artistas e intelectuais.Nomes ligados a várias áreas de expressão cultural, política e artística. Assim encontrava-se fora do país, por volta de 1970: músicos populares - Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré-, cineastas - Glauber Rocha-, diretores de teatro - Augusto Boal-, pensadores e educadores – Paulo Freire, Darci Ribeiro, dentre outras personalidades.
O período militar entrava agora em sua faze mais violenta. Para o jovem com a mentalidade critica que vivia no inicio dos anos 1970 restavam três opções: a resistência democrática em pequenas ações do cotidiano; a clandestinidade da guerrilha ou o chamado ‘desbunde’ e a busca ‘fora’ da sociedade estabelecida.
Os chamados circuitos universitários tornaram se uma garantia para artistas que ainda permaneciam no país, podendo neste espaço desenvolver relativamente seu trabalho, e tendo um público que o absorvia.
Mas esta mesma década assistiu a volta dos artistas mais expressivos da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros. Caetano e Chico foram protagonistas de um dos mais significativos atos de contestação à ditadura, um show que se tornou disco: Caetano e Chico, ao vivo, lançado em 1972, realizado na cidade de Salvador, Bahia. O Show mesmo sofrendo várias ações de sabotagem técnicas como o desligamento de microfones, foi um verdadeiro ato de resistência contra a ditadura e a censura.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ainda Tropicália


Contrariando o ideário da esquerda nacionalista, que atuava intelectualizando a superação histórica do nosso subdesenvolvimento e conservadorismo, o tropicalismo nascia expondo e assumindo estes elementos como relíquias. A tropicália pode ser vista como a resposta a uma crise das propostas de engajamento cultural, baseadas na cultura ‘nacional–popular’ e que se via cada vez mais absolvida pela industria cultural e isolada do contato direto com as massas, após golpe militar de 1964. Através de uma série de canções manifesto, o legado tropicalista veio em forma de disco, Tropicália ou Panis et Circencis, (agosto de 1968) que englobava vários estilos musicais como: rock, samba, bolero e até um hino de cunho religioso dedicado ao Senhor do Bonfin. O disco tem como maiores destaques as músicas: Alegria Alegria, Domingo no Parque, ambas premiadas no III Festival de Música Popular da TV Record de 1967,em quarto e segundo lugares, respectivamente, e Tropicália canção homônima do movimento. Música Alegria Alegria, teve destaque por sua inovação narrativa apresentando uma estruturação serialista da composição. Esta disposição denotava uma consciência fragmentária da realidade, um clima de descompromisso com a realidade rompendo com o engajamento dominante nas letras da MPB. Segundo Gilberto Mendes: “A melodia solar sugeria uma tentativa de conciliar uma consciência critica leitora de um mundo fragmentado, com a busca do prazer individual libertário”. Esta busca pelo individual libertário se faz presente na produção musical dos anos 70.
Vale considerar que o Tropicalismo não deve ser considerado um movimento coeso, já que nem todos os artistas identificados como tropicalistas partilhavam dos mesmos valores estéticos e políticos.
O movimento tropicalista foi um bom reflexo do espírito revolucionário, ou transformador que inspirava os anos 60.
Movimento explodiu no começo de 1968 e atingiu diversas áreas artísticas, pode ser considerado uma síntese do radicalismo cultural que tomou conta da sociedade brasileira, sobretudo sua juventude.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Acordes dissonantes, cinco mil alto falantes, eis a Tropicália!


A interrupção do processo de criação das canções de participação e de protesto, que ingressava no ano de 1968 em uma nova etapa, deu-se com o movimento denominado Tropicalismo, modificando o quadro cultural. Tropicalismo acabou consagrado como ponto de clivagem ou ruptura, em diversos níveis: comportamental, político-ideológico, estético. Ora apresentado como a face brasileira da contracultura, ora apresentado como o ponto de convergência das vanguardas artísticas mais radicais. Seus eventos fundadores são localizados em 1967, embora o Tropicalismo, como movimento, tenha surgido no começo de 1968, em sua produção musical, campo de maior expressão, através das inovadoras propostas de Caetano e Gil. De influência modernista (oswaliano-antropofágica) teve destaque especialmente na música popular, embora tenha apresentado manifestações em outras áreas como: nas artes plásticas, na poesia e no cinema. Com os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tom Zé, Capinan, Gal Costa, Rogério Duarte, e o piauiense Torquato Neto, a que se agregaram os maestros e arranjadores Rogério Duprat, Julio Medaglia e Dimiano Cozzella, além do grupo de rock Os Mutantes, entre outros, representaram a vertente musical do movimento.
O movimento tropicalista será visto como uma face positiva, prospectiva e culturalmente inovadora, do processo histórico marcado pelos paradigmas estabelecidos pelo golpe militar de 1964.
O ambiente da MPB, na década de 60 era os festivais, e foi neste contexto que o Tropicalismo apresentou suas mais expressivas manifestações, com músicas de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Eles vinham com uma proposta de inovar a MPB, pois acreditavam que depois da Bossa Nova e a Música de Protesto, a criação musical havia se estagnado. Importante notar que neste período vivia-se uma espécie de dicotomia, um maniqueísmo, que separavam engajados e alienados, no campo da política e da cultura, e na música não era diferente, ou se fazia uma música com preocupações, nacionalistas, ou se pertencia à turma do iê, iê, iê, expressão usada para se referir ao movimento da Jovem Guarda. O tropicalismo veio para acabar, ou pelo menos não respeitar nada disso.
Continuaremos a tratar sobre o Tropicalismo em um próximo artigo.