domingo, 20 de dezembro de 2009

A ousadia poética do Secos e Molhados


Em 1973, auge do regime militar, um grupo chamado Secos e Molhados tornou-se um fenômeno da música popular brasileira, lotando casas de espetáculos, ginásios e superando a marca de um milhão de discos vendidos.

Com letras de cunho literário, era considerado essencialmente um conjunto de rock. O grupo era composto por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad, sendo o repertório composto principalmente por João Ricardo e Gérson. O conceito era a palavra. Eram basicamente poemas musicados. Em 1973 o grupo gravou o LP Secos e Molhados, pela gravadora Continental, com Sangue latino, O vira e Rosa de Hiroshima como as canções de maiores destaques. O disco foi sucesso nacional, possibilitando ao conjunto apresentar-se numa serie de espetáculos, entre os quais se destacam os shows no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro RJ, e no Ginásio Presidente Médici, em Brasília. No ano seguinte, o grupo exibiu-se na televisão mexicana, gravou seu segundo LP, Secos e Molhados, com Flores astrais, e Tercer Mundo. Ainda em 1974 o conjunto se desfez, passando seus integrantes a atuar individualmente.
Com uma postura desafiadora, transgressora, e um repertório pop, o Secos e Molhados arrebatavam platéias e mais platéias a cada novo show, as barbas do regime militar. A própria imagem do grupo já era uma agressão às famílias da classe média, participantes da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, (ato de manifestação de apoio ao Golpe Militar de 1964) defensores da “moral” e dos “bons costumes”. O Secos e Molhados se apresentavam com os rostos pintados e roupas extravagantes. Ney Matogrosso, vocalista do grupo, era uma transgressão à parte, de rosto pintado, quase sempre seminu, rebolava de um lado a outro do palco como que em um transe interpretativo das canções.
O grupo foi considerado como o maior acontecimento musico-cultural, pelo menos na parte comercial, desde a Tropicália, em plena vigência do AI-5, período de maior violência física e institucional do regime militar.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Besta é tu de viver neste mundo...



Se pudermos considerar algum grupo, inserido dentro do contexto da industria cultural, ou seja, que teve suas idéias (trabalho) comercializado ao grande publico, que procurou viver, ou melhor, vivenciar os ideais da contracultura no Brasil, este grupo chama-se: Novos Baianos.
Os Novos Baianos teve seu período de maior representatividade na vida musical brasileira de 1969 a 1979. Composto por quatro baianos e uma carioca, o grupo é herdeiro direto do Tropicalismo. Utilizando-se de diversos gêneros musicais brasileiros, o grupo cozinhou em seu caldeirão João Gilberto, Luiz Gonzaga, choro, afoxé, e toda a parafernália elétrica de Dodô (instrumentista baiano, um dos criadores, juntamente com Osmar, do trio-elétrico) a Jimmy Hendrix. Os Novos Baianos tornaram-se emblemáticos dentro da indústria cultural brasileira pela constante referência às matrizes musicais nordestinas incorporando também tangos, sambas e boleros, operando a clássica infusão tropicalista, divulgada alguns anos antes pelos seus conterrâneos tropicalistas Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Tom Zé.
O grupo acreditava que para obter uma sintonia musical perfeita esta deveria ocorrer também na vida pessoal e com isso resolveram morar todos juntos. Em 1973, fixaram num sítio no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, passam a dividir o tempo entre a música e futebol contando com a presença de visitantes ilustres como ex-jogadores de futebol profissionais.
Em pleno clima de fechamento das liberdades democráticas por conta do regime militar, os "Novos Baianos" viviam como uma comunidade quase que anárquica. Mas as relações pessoais e o futebol com o tempo foram se revelando mais importantes que a música dentro deste “universo” dos Novos Baianos. Sugiram deste vários subgrupos, dos quais o de maior destaque é o: A cor do Som, e a carreira solo de seus principais componentes como: Moraes Moreira, Pepeu Gomes, e Baby Consuelo (atual Baby do Brasil).
Nestes dez anos foram oito discos produzidos num estilo de vida alternativo, regado a muito sol, futebol, e filhos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CPC: Centro Popular de Cultura



O universo cultural dos anos 60 vivia uma espécie de maniqueísmo, ou se fazia arte engajada, ou se fazia arte alienada. Para os que faziam a tal arte engajada o CPC da UNE foi um verdadeiro norte para a atividade artística. Muitos compositores-intérpretes, influenciados pelos mais diversos gêneros musicais, aglutinaram-se em torno de Carlos Lyra, um dos mais apaixonados militantes do Centro Popular de Cultura. O CPC foi fundado no Rio de Janeiro, em 1961-1962, junto à sede da União Nacional dos Estudantes, em Botafogo, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Entre os objetivos do CPC constava o de deslocar o sentido comum da música popular, dos problemas puramente individuais para um âmbito geral. O compositor se faz interprete esclarecido dos sentimentos populares. Na fase inicial do movimento cepecista, Carlos Lyra e Edu Lobo, dentre outros, empolgaram-se com a nova proposta pedagógico-política e revolucionária defendida pelos ideólogos do CPC (Oduvaldo Vianna Filho, Chico de Assis, Armando Costa, Paulo Pontes, Ferreira Gullar) e escreveram canções de matizes técnico-ideológicos muito genéricos, procurando resolver conforme as suas concepções de mundo e da arte, as inúmeras contradições entre o projeto estético (musical) e ideológico. O surgimento do manifesto do CPC/UNE (redigido por Carlos Estevan Martins), em fins de 1962, tentava disciplinar a criação engajada dos jovens artistas. Como tarefas básicas, na medida em que o governo João Goulart assumia as Reformas de Base como sua principal bandeira, o CPC se dispunha a desenvolver uma consciência popular como base da libertação nacional. As denúncias sociais tornaram-se temas das canções de protesto. Era preciso conscientizar o povo brasileiro, em geral, através de críticas contundentes sobre a situação do favelado e do sertanejo. A chamada canção de protesto, escrita por dezenas de compositores durante os anos 60, num primeiro momento, representava uma possível intervenção política do artista na realidade social do país, contribuindo assim para a transformação desta numa sociedade mais justa almejando induzir, implícita ou explicitamente, através de suas canções, algumas práticas revolucionárias, a partir de suas mensagens.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A repressão aumenta, a desobediência também.



Os anos 70 foram marcados pela consolidação do regime militar implantado com o golpe de 1964. Esta consolidação deveu-se a um dispêndio de violência repressora, com censuras, prévias e póstumas de todos os meios de comunicação e nos campos: da arte, cultura, manifestações sociais. A presença castradora da censura e a constante repressão a quem ousava protestar implicaram na prisão, no exílio e até mesmo a morte de alguns deles e também a eclosão da resistência armada ao regime, como a guerrilha rural e ações urbanas a exemplo de, assaltos a bancos, seqüestros de embaixadores, que serviam de moeda de troca para a liberdade de presos políticos.

A partir da implantação do AI-5 em 1968, que se desenhou o quadro de censura e exílio dos principais artistas e intelectuais.Nomes ligados a várias áreas de expressão cultural, política e artística. Assim encontrava-se fora do país, por volta de 1970: músicos populares - Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré-, cineastas - Glauber Rocha-, diretores de teatro - Augusto Boal-, pensadores e educadores – Paulo Freire, Darci Ribeiro, dentre outras personalidades.
O período militar entrava agora em sua faze mais violenta. Para o jovem com a mentalidade critica que vivia no inicio dos anos 1970 restavam três opções: a resistência democrática em pequenas ações do cotidiano; a clandestinidade da guerrilha ou o chamado ‘desbunde’ e a busca ‘fora’ da sociedade estabelecida.
Os chamados circuitos universitários tornaram se uma garantia para artistas que ainda permaneciam no país, podendo neste espaço desenvolver relativamente seu trabalho, e tendo um público que o absorvia.
Mas esta mesma década assistiu a volta dos artistas mais expressivos da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros. Caetano e Chico foram protagonistas de um dos mais significativos atos de contestação à ditadura, um show que se tornou disco: Caetano e Chico, ao vivo, lançado em 1972, realizado na cidade de Salvador, Bahia. O Show mesmo sofrendo várias ações de sabotagem técnicas como o desligamento de microfones, foi um verdadeiro ato de resistência contra a ditadura e a censura.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ainda Tropicália


Contrariando o ideário da esquerda nacionalista, que atuava intelectualizando a superação histórica do nosso subdesenvolvimento e conservadorismo, o tropicalismo nascia expondo e assumindo estes elementos como relíquias. A tropicália pode ser vista como a resposta a uma crise das propostas de engajamento cultural, baseadas na cultura ‘nacional–popular’ e que se via cada vez mais absolvida pela industria cultural e isolada do contato direto com as massas, após golpe militar de 1964. Através de uma série de canções manifesto, o legado tropicalista veio em forma de disco, Tropicália ou Panis et Circencis, (agosto de 1968) que englobava vários estilos musicais como: rock, samba, bolero e até um hino de cunho religioso dedicado ao Senhor do Bonfin. O disco tem como maiores destaques as músicas: Alegria Alegria, Domingo no Parque, ambas premiadas no III Festival de Música Popular da TV Record de 1967,em quarto e segundo lugares, respectivamente, e Tropicália canção homônima do movimento. Música Alegria Alegria, teve destaque por sua inovação narrativa apresentando uma estruturação serialista da composição. Esta disposição denotava uma consciência fragmentária da realidade, um clima de descompromisso com a realidade rompendo com o engajamento dominante nas letras da MPB. Segundo Gilberto Mendes: “A melodia solar sugeria uma tentativa de conciliar uma consciência critica leitora de um mundo fragmentado, com a busca do prazer individual libertário”. Esta busca pelo individual libertário se faz presente na produção musical dos anos 70.
Vale considerar que o Tropicalismo não deve ser considerado um movimento coeso, já que nem todos os artistas identificados como tropicalistas partilhavam dos mesmos valores estéticos e políticos.
O movimento tropicalista foi um bom reflexo do espírito revolucionário, ou transformador que inspirava os anos 60.
Movimento explodiu no começo de 1968 e atingiu diversas áreas artísticas, pode ser considerado uma síntese do radicalismo cultural que tomou conta da sociedade brasileira, sobretudo sua juventude.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Acordes dissonantes, cinco mil alto falantes, eis a Tropicália!


A interrupção do processo de criação das canções de participação e de protesto, que ingressava no ano de 1968 em uma nova etapa, deu-se com o movimento denominado Tropicalismo, modificando o quadro cultural. Tropicalismo acabou consagrado como ponto de clivagem ou ruptura, em diversos níveis: comportamental, político-ideológico, estético. Ora apresentado como a face brasileira da contracultura, ora apresentado como o ponto de convergência das vanguardas artísticas mais radicais. Seus eventos fundadores são localizados em 1967, embora o Tropicalismo, como movimento, tenha surgido no começo de 1968, em sua produção musical, campo de maior expressão, através das inovadoras propostas de Caetano e Gil. De influência modernista (oswaliano-antropofágica) teve destaque especialmente na música popular, embora tenha apresentado manifestações em outras áreas como: nas artes plásticas, na poesia e no cinema. Com os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tom Zé, Capinan, Gal Costa, Rogério Duarte, e o piauiense Torquato Neto, a que se agregaram os maestros e arranjadores Rogério Duprat, Julio Medaglia e Dimiano Cozzella, além do grupo de rock Os Mutantes, entre outros, representaram a vertente musical do movimento.
O movimento tropicalista será visto como uma face positiva, prospectiva e culturalmente inovadora, do processo histórico marcado pelos paradigmas estabelecidos pelo golpe militar de 1964.
O ambiente da MPB, na década de 60 era os festivais, e foi neste contexto que o Tropicalismo apresentou suas mais expressivas manifestações, com músicas de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Eles vinham com uma proposta de inovar a MPB, pois acreditavam que depois da Bossa Nova e a Música de Protesto, a criação musical havia se estagnado. Importante notar que neste período vivia-se uma espécie de dicotomia, um maniqueísmo, que separavam engajados e alienados, no campo da política e da cultura, e na música não era diferente, ou se fazia uma música com preocupações, nacionalistas, ou se pertencia à turma do iê, iê, iê, expressão usada para se referir ao movimento da Jovem Guarda. O tropicalismo veio para acabar, ou pelo menos não respeitar nada disso.
Continuaremos a tratar sobre o Tropicalismo em um próximo artigo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Jovem Guarda. Ladeando a discussão política.


A Jovem Guarda foi responsável pelos primórdios do rock brasileiro. incorporando as guitarras, os cabelões e a fidelidade às regras criadas por Elvis e todos os outros fundadores do rock nos anos 50. Com versões de rocks estrangeiros, os grupos nacionais trouxeram para as rádios e principalmente para a TV, toda a atmosfera do rock dos anos 60. As experimentações destes grupos foram derrubando a ‘ditadura das versões’ e abrindo espaço para compositores e arranjadores nacionais.
Com um estilo narrativo de suas letras inspiradas em Histórias em Quadrinhos, um ritmo veloz e acordes quadrados, a Jovem Guarda foi se firmando como movimento. Em meados dos anos 60, o sucesso de alguns programas da TV fazia desta, uma vitrine perfeita do que acontecia no cenário da música no Brasil. Com o fim da transmissão dos jogos de futebol pela televisão em 1965, abriu um espaço precioso na grade de programação destas emissoras. A TV Record de São Paulo “rapidamente escalou um time para esse horário: Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Sérgio Reis, Renato e seus Blue Caps, Martinha, Goldem Boys, entre outros. Era o programa Jovem Guarda, que sucesso após sucesso, conseguiu conquistar um público enorme e transformou-se no ritmo das multidões adolescentes”. (BAHIANA, 1983, p. 41). Roberto Carlos comandava o programa, era o Rei da juventude, seus súditos eram jovens que não estavam nem no poder nem o contestava, moravam geralmente nas periferias das grandes cidades e viam na Jovem Guarda uma possibilidade de afirmação através de atitudes de uma rebeldia inocente, projetada em roupas, cabelos, sonhos com carros, motocicletas, velocidade, no máximo as inconseqüentes turmas de ruas, as brigas machistas, os tremendões valentões, tudo em nome de, de uma confusão, uma garota, um carrão. Derrubar as instituições burguesas? O poder? A escola? A família? Não era bem por aí.
Com esta atitude a Jovem Guarda tinha sua qualidade questionada e suas intenções colocadas em duvida pelos artistas e intelectuais de esquerda, mas apesar desta situação, fazia muito sucesso, sobretudo com os jovens de classe média baixa não universitários, que pareciam escapar do alcance estético – ideológico da chamada MPB. A desvinculação de Roberto Carlos do programa Jovem Guarda, a superexposição ao consumo, cansaço e esgotamento criativo de seus participantes foram alguns dos elementos que levaram extinção do movimento no inicio de 1969.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Política em notas musicais.

O Brasil dos anos 60 passou por diversas mudanças em sua vida política. O processo de democratização política e social, que obteve grande mobilização popular em apoio às reformas de base, propostas pelo presidente João Goulart, foi interrompido pelo golpe militar de 1964 que se desencadeou na implantação de um regime militar, provocando uma reviravolta na vida política do país. A decretação dos Atos Institucionais e Complementares (mecanismo pelo qual o governo militar disponibilizava para governar sem respaldo constitucional e do Congresso), como o AI-2 e o Ato Complementar nº1, dentre outros que abordaremos em momentos mais adequados, estabelecia eleições indiretas para a Presidência, a dispersão dos partidos políticos, estabelecendo a existência de apenas dois partidos políticos, a Arena, partido de apoio ao governo e o MDB, (Movimento Democrático Brasileiro) partido de oposição moderada ao governo. Diante deste cenário de repressão política o caminho das artes se mostraram viáveis para a expressão política.
Como vimos em matéria passada, a bossa nova foi a expressão de uma mudança da conceituação da música popular brasileira, com sua mudança rítmica e temática do samba. Esta mudança de temática se consolida com elementos de uma preocupação social, coletiva presente mais consistentemente na chamada música engajada, nascida no seio da bossa nova. Os temas: garotas de Ipanema, os barquinhos, as flores, para alguns jovens de esquerda era um bom sinal da submissão ao imperialismo capitalista. O primeiro compositor ligado a bossa-nova a demonstrar inquietação em fase do excesso de informação cultural estrangeira no movimento foi Carlos Lira. As primeiras músicas consideradas de protesto ou engajadas foram: Zelão, de Sergio Ricardo, e Quem Quiser Encontrar O Amor, Geraldo Vandré e Carlos Lyra. Estas músicas traziam alguns elementos que rompiam com o estilo de João Gilberto, mantendo a sofisticação instrumental, tal como a complexidade harmônica e sutileza vocálica.
A chamada música engajada ou de protesto tornou-se o primeiro sinônimo de MPB (música popular brasileira) como expressão de um país representado em todas suas particularidades regionais, como a vida no sertão nordestino e nas favelas e suas necessidades políticas.

Capa disco Carlos Lira 1963


terça-feira, 8 de setembro de 2009

A música como expressão política.

No universo da música popular no Brasil da década de 60, aspirava-se uma reorganização do que se entendia como canção popular brasileira. A soma de diversos temas e estilos musicais tinham em comum, a vontade de ‘atualizar’ a expressão musical do país. Desta mutação pela qual passava a canção popular, uma das questões centro, era a discussão em torno do engajamento, político-social, das artes, ou a produção da arte pela arte, como muitos designavam a arte alienada. Este debate se projetou no campo musical, em uma segregação criada primeiramente entre o Fino da Bossa, programa exibido pela TV Record, às quartas feiras às 20hs, e a Jovem Guarda, programa exibido pela TV Record, aos domingos, às 17hs, posteriormente as atenções se voltaram para os festivais. Para o grupo dito engajado foi a Jovem Guarda que introduziu na música brasileira, a guitarra elétrica, símbolo maior do imperialismo estadunidense, não passando assim de um bando de jovens alienados e submissos á influencia maléfica do imperialismo Americano. Essa discussão entorno do engajamento através das artes, no caso a música, deve-se ao fato da tomada do poder pelos militares em 1 de Abril de 1964, implantando a partir desta data um regime militar no Brasil, se desenvolvendo em ditadura e se estendeu até meados da década de 1980.
Com o advento da bossa nova, assiste-se uma apropriação de elementos do samba tendo predominância de uma linha harmônica, ditada pelo violão, proporcionando um afastamento do samba em sua raiz popular. A bossa-nova surge em fins dos anos 50, com uma proposta de valorização da música brasileira, embora tenha grande influência do jazz considera o samba como a música verdadeiramente nacional. Com essa a mudança temática, os sambas da bossa-nova, deixaram de abortar temas dos sambas canção, do dito samba ‘quadrado’. O impacto da bossa nova potencializou um conjunto de tensões culturais anteriores, mas que ressurgiram devido a incorporação de novos seguimentos sociais no panorama musical, como a classe média universitária, num momento em que o país busca sua forma de inserção na modernidade.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Liberdade Vigiada

O evento mais marcante da História contemporânea do Brasil é sem duvida o golpe militar de 1º de abril de 1964. A interpelação da ordem democrática pelos militares golpistas gerou abalos na vida nacional em todos sentidos: na esfera política, econômica, social e cultural, principalmente para aquelas pessoas que não batiam continência, e descordavam dos rumos que a “nação” era conduzida. Na esfera política a perseguição aos inimigos do “estado” foi imediato, o alvo principal eram os demônizados comunistas, ou pessoas de orientação de esquerda ou qualquer um que descordasse do regime. No campo cultural viveu-se uma certa liberdade de criação nos primeiros 4 anos do regime, e, este acabou tornando-se um instrumento ideológico da luta contra a ditadura. Não podemos deixar de observar que o campo cultural foi o maior exemplo da chamada liberdade vigiada. O regime contava com uma “comunidade de informações”, como DOPS, SNI, que eram responsáveis pela vigilância e controle das manifestações publicas e culturais. A obsessão pela vigilância como forma de prevenir a atuação “subversiva”, sobretudo naquilo que os manuais da Doutrina de Segurança Nacional chamavam de propaganda subversiva e guerra psicológica contra as instituições “democráticas e cristãs” uma lógica da suspeita. Uma conversa mal entendida em um boteco, um livro debaixo do braço, uma roupa, cabelo, barba mal feita, um curso universitário, tudo poderia transformar o cidadão em inimigo potencial do regime. Essa produção da suspeita elaborada pelos espiões da comunidade de informações não apenas alertava o governo e os serviços de repressão para situações reais de contestação ao regime, mas através de intermináveis relatórios subjetivos, elaboravam perfis, potencializavam situações criavam conspirações que independentemente da verossímidade das informações acabavam por justificar a própria existência desses serviços. O alvo preferido desses relatórios eram os artistas da chamada MPB, sigla que a partir de meados da década de 60 congregava a música de matriz nacional popular, declaradamente contra o regime militar.
Em um próximo artigo falaremos dos artistas que freqüentavam esse relatórios e seus desdobramentos.

Seja Bem Vindo!


Olá queridos, amigos é com imensa felicidade que ponho em prática uma idéia a tanto planejada. Ter um espaço para compartilhar pensamentos, sentimentos, conversar sobre história e cultura brasileira. Espero que esse seja um espaço de liberdade e ilustração onde passaremos momentos agradáveis falando sobre questões pertinentes a nossa formação cultural, às vezes tão maltratada. Anseio ter a humildade e competência para conduzir as discussões aqui propostas. Sejam todos bem vindos!