Esta semana ao invés de falar sobre música e política optei por relembrar um texto que escrevi há alguns anos. Diante do momento político de nosso país, acho oportuna sua exposição. É um pequeno texto romântico sobre a democracia, entendida como trabalho realizado para a satisfação do bem estar coletivo.
Esta é a façanha de um grande circo, de aparência igual aos outros: o tamanho, as lonas, tudo exatamente igual. A diferença é que neste circo seus integrantes tinham uma vontade incontrolável de voar. Esta vontade se expandia desde o fantástico Homem Bala ao mais irreverente dos palhaços.
Cansados de tantas tentativas de realização da façanha de fazerem daquele um circo voador, atentaram-se a um pequeno detalhe, observado por um garoto que se juntara a pouco a trupe: as estacas. Estas que apesar de serem pequenas e quase insignificantes, quando aplicadas em conjunto tem o grande poder de prender a circo ao chão.Com a observação feita foram todos alvoroçados e ansiosos a libertar o grande circo das pequenas estacas. E assim ao terminarem este esplendoroso serviço, voltaram todos ao picadeiro e realizaram o espetáculo mais maravilhoso de suas vidas, e, almejando realizar a incrível façanha que toda a trupe tinha de voar, assim aconteceu. O circo vendo-se livre das pequenas estacas que lhe condenava ao chão, foi ganhando cada vez mais altura até conquistar o espaço, e com isso ao circo voador deixou de ser o “Maior Espetáculo da Terra”, para tornar-se o “Maior Espetáculo do Universo”.
Quem tem metas tem o poder de realiza-las por mais que pareçam impossíveis. Basta apenas livrar-se da intransigência das “pequenas estacas”.
O maior espetáculo que o circo realizou foi o da democracia, onde o dialogo irrestrito e a vontade “coletiva” transformou-se em realidade.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
“Cantando eu mando a tristeza embora”
Certo dia conversando num intervalo de aula com um amigo de faculdade, sobre uma frase da música “Desde que o samba é samba” de Caetano e Gil, a qual falava: “A tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim...” ele disse a seguinte frase: “É, se o mundo fosse um lugar feliz não existiria nem o samba, nem blues, que hoje tanto amamos”. Numa dessas ocasiões do destino ao termino dessa frase, nossa aula recomeçou e a conversa interrompida não chegou ao um término oficial. Pois bem, agora sozinho atrevo-me a termina-la neste artigo. Depois de quase 4 anos e muito ler e pensar, acho que entendo o sentido da frase. Ao analisar origens destes gêneros musicais, chegamos a um cerne comum: o sofrimento do cativeiro dos negros africanos. A vergonhosa história de violência, brutalidade, desumanidade, da escravização americana, todos nó temos uma noção, os africanos foram roubados de sua terra para servir de mão-de-obra escrava no continente americano.Todo este sofrimento era entoado em lamentos, marcado na cadencia do cabo da enxada, nas lavouras dos grandes senhores. A grande diferença do desenvolvimento musical dos negros foi sua condição de liberdade de expressão consentida no cativeiro americano. Enquanto no Brasil os negros desfrutavam de certa autonomia para cultuar sua religiosidade, lógico com as devidas adaptações imposta pela igreja católica, esta ainda se baseava nos rituais do candomblé, cujo principal característica é a musicalidade marcada pela percussão, nos Estados Unidos, o puritanismo de sua religião não permitia que os negros profanassem “Deus” com seus rituais primitivos, ceceando-lhes assim o direito de expressar sua religiosidade e proibindo a manipulação dos instrumentos de percussão. É claro que o desenvolvimento dos dois gêneros musicais enriqueceram-se com várias outras misturas e influências, mas sua origem é a mesma: Lamento e Religiosidade. No Brasil, prevaleceu a harmonia ditada pela percussão, nos Estados Unidos a harmonia era ditada em instrumentos de cortas. Mas a tristeza era a mesma. É incrível pensar como um ato político e econômico de sociedades que se diziam civilizadas, provocasse tanto sofrimento e angústia, e, estes por sua vez produzisse algo tão sublime como o Samba e o Blues.
domingo, 18 de abril de 2010
O Rock Tupiniquim
A MPB nos anos 80 cede espaço, pelo menos no campo mercadológico para o Rock tupiniquim. Já fazia muito rock no Brasil, mas poucos conseguiam expressividade pop e viabilização comercial. Desde o seu surgimento nos Estados Unidos o rock apresenta uma “linha evolutiva”, lógico que guardados seus acidentes, e eventos comerciais, dentro de um contexto de rebeldia e contestação de costumes, que vai desde uma simples mudança comportamental como roupas, cabelos, chicletes, cigarros, a um movimento político mundial de contracultura.
No Brasil o rock trilhou um caminho peculiar. Seu surgimento, pelo menos a um público consumidor expressivo, se deu com a Jovem Guarda, que apresentava versões de rocks estrangeiros basicamente. Não tinha nenhuma preocupação política, o que lhe rendeu a denominação de ‘alienados’, no intenso debate político dos anos 60. Seus artistas, tendo como maior representante Roberto Carlos, ao invés de evoluir na linha do rock, optou pelo gênero romântico, ou popularmente conhecido como brega, atendendo as demandas do mercado, de Rei da Juventude, passou a Rei das Donas de Casa.
O cenário do Rock Brasileiro nos anos 70 foi composto pela perseguição política, devido ao AI-5 instituído pelo governo militar e marginalização, tendo este que sobreviver no batalhado cenário independente. Bandas como, A bolha, O Terço, Casa das máquinas e tantas outras que se formavam e se desfaziam, não conseguiam ocupar espaço privilegiado das gravadoras. Houve o rock progressivo dos mineiros do 14 Bis, o rock rural de Sá, Rodriz e Guarabira, o rock experimental dos Mutantes, mas depois da Jovem Guarda, o rock Brasileiro, até os anos 80 não esteve nas paradas de sucesso, sempre as margens delas.
A Blits foi a banda considerada precursora do rock-oitentista ou pop-rock comercialmente viável no Brasil. O grande sucesso da Blits foi a senha para que as gravadoras buscassem novas bandas de rock, menos ou mais brasileiras, mais punk ou mais new rave, além das mais rock’ n’ roll. Varias delas escreviam crônicas do seu momento histórico. Estava chegando para fazer música brasileira uma geração que havia crescido e sido educada sob a ditadura militar pós-golpe de 1964 e com formação cultural importada dos Estados Unidos.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Paz Amor e Repressão
Nos anos 70 observamos um anseio por uma revolução individual, interna partindo de cada um, como denominou Tom Wolfe: os anos 70 como ‘A Década do Eu’. Ou seja, depois dos anos 60, em que a vida comunitária foi a chave, as pessoas começavam a se voltar para si mesmas, para uma espécie de ‘novo individualismo’, ou até, como queriam muitos, ‘novo egoísmo’. A palavra de ordem era a subversão da ordem vigente, o rompimento das amarras das regras do sistema, orientalismo, expansão da mente, contracultura, a necessidade de se fazer uma nova cultura. Este cenário descrito pode começar a ser entendido no Brasil, com a implantação do AI-5, em dezembro de 1968, o qual representa o endurecimento do regime militar vigente. Através deste implantou-se a censura prévia, feita em geral por militares. Os setores que mais sentiram os efeitos desta foram a imprensa e o setor cultural, toda publicação passava pelos sensores que decidiam o que seria publicado ou não. Na produção musical não era diferente, as músicas não podiam ser gravadas sem a aprovação previa da censura, aplicando-se esta medida as produções cinematográficas e televisivas. Este ambiente restritivo vivido após 1968 levou vários artistas ao exílio, muitas vezes forçados para fora do país. A exemplo de Caetano e Gilberto Gil, principais expoentes da Tropicália, foram presos e exilado em Londres.
No inicio dos anos 70 vivia-se também a égide do fim do sonho, cantada por Lennon, a revolução comunitária se tornava cada vez mais utópica, tanto no contexto mundial tendo seu cenário composto por guerras como a do Vietnã, corridas espaciais, guerra fria, quanto no contexto nacional, vivendo sob as regras de um regime militar autoritário e repressor. Esta situação como observou Ana Maria Bahiana, levou muitos a buscarem uma revolução individual de dentro para fora, a partir de cada um, subvertendo as regras do sistema, rompendo as amarras. Cabelos compridos, orientalismo, o nirvana aqui e agora. Muito som e muito sol, curtir a pele, viajar em todos os sentidos desta palavra, abandonar as cidades. Paz amor e arroz integral. Na cabeça a semente de uma nova raça. A cultura e a civilização que se danem, como já havia berrado o Tropicalismo.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Os Mineiros entram em cena
Nos anos 70 foi marcado por uma emergência de expressões culturais, no caso da música, deslocados do eixo Rio-São Paulo como o Clube da Esquina. Nascido na esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis, do bairro de Santa Teresa, cidade de Belo Horizonte. Os amigos Milton Nascimento, Wagner Tiso, Lô e Mário Borges, Beto Guedes, Fernando Brant, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Helvios Vilela, se reuniam para tocar, compor cantar e trocar experiências musicais, surgindo destas reuniões o movimento musical chamado Clube da Esquina, no ano de 1970. Com influência de Beatles e do rock progressivo, externaram uma musicalidade regionalista, com grande qualidade harmônica, travaram diálogos com o chamado rock rural, representado principalmente pelos músicos; Sá, Rodrix e Guarabyra, provenientes do Rio de Janeiro.
Estes músicos tornaram- se um grande grupo, visto que compunham, tocavam, gravavam, juntos ou em parcerias, realizando shows. Essas trocas de experiências culminaram no disco Clube da Esquina, lançado em 1972. Em 1978, foi lançado o LP Clube da Esquina 2. Os integrantes do Clube da Esquina desenvolveram carreiras individuais de sucesso, atuando como cantores, instrumentistas, arranjadores e compositores.
O clube da Esquina teve sua participação na vida política do país como observamos no depoimento de Aloísio de Paula, o Juninho integrante do Clube: “Eu acho que o disco (Clube da Esquina 1) é um momento, o clímax de um sentimento. Ou seja, é uma expressão do que acontecia no mundo, que estava acontecendo politicamente, em que o Governo Militar estava matando, oprimindo, estava tolhendo a voz, acabando com a liberdade de expressão. A gente tinha 18, vinte e poucos anos, a gente tinha esse impulso natural de querer ter voz, querer ser um indivíduo”. O Clube da Esquina se constituiu na célula-mãe de todo um processo de resistência. Eles estavam vivendo aquela experiência de ser uma juventude rebelde, oprimida pelas condições imposta pelo autoritarismo do regime militar, vigente.
Neste clima de opressão e violência, os mineiros do Clube, se mostraram ao cenário musical brasileiro, conquistando e encantando-o.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Viva,viva, viva o cenário alternativo
O cenário da produção musical nos anos 70 no Brasil foi marcado pela censura e repressão instaurado pelo AI-5 de 1968. Este Ato Institucional marcou o regime militar vigente por um endurecimento, ou seja, a perda das liberdades políticas e institucionais dos cidadãos brasileiros. No campo cultural o resultado foi a censura, perseguição, prisão e exílio de vários dos principais artistas e intelectuais do país. Paras os artistas que permaneceram no Brasil as condições de trabalho não se apresentaram muito boas, com a censura vigente, os espaços nas grandes gravadoras se restringiram muito, pois, estas eram vigiadas com mais afinco e quando o trabalho de um determinado artista não sofria censura prévia, antes de grava-lo, poderia sofre-la depois de gravado, com a pena de recolher os disco das lojas, essa situação acontecia em todos os seguimentos culturais, aumentando assim os prejuízos financeiros do trabalho realizado. A execução de grandes shows não deixava de ser complicado, a produção contava com toda complicação disponível pela burocracia e quando chegavam a serem realizados a possibilidade de sofrerem boicotes técnicos e até mesmo a invasão da polícia não era remota. Claro que essa realidade era vivida por artistas tidos como engajados ou contestadores, o que era um problema, pois, para a censura essa postura era relativa. Uma palavra que não se entendesse o contexto poderia, e era, considerada como subversiva e vedada da circulação. Vários textos teatrais, livros, poemas, letras de musicas foram proibidas por isso, se os censores não entendessem, estava censurado.
A opção dos artistas, que não estavam exilados, para se divulgarem seus trabalhos estava no chamado cenário independente ou alternativo. Este era composto por pequenos espaços como bares livrarias que realizavam pequenos shows, saraus de literatura e poesias. Campus universitários, onde se desfrutava de certa liberdade, eram centros formadores e propagadores de opiniões, tinha a facilidade de mobilização de público. Alguns festivais universitários chegaram a totalizar cerca de dez mil pessoas, e, pequenas gravadoras independentes, nas quais a maioria das vezes o artista financiava a gravação de sua obra e depois se encarregava de comercializa-la.
A opção dos artistas, que não estavam exilados, para se divulgarem seus trabalhos estava no chamado cenário independente ou alternativo. Este era composto por pequenos espaços como bares livrarias que realizavam pequenos shows, saraus de literatura e poesias. Campus universitários, onde se desfrutava de certa liberdade, eram centros formadores e propagadores de opiniões, tinha a facilidade de mobilização de público. Alguns festivais universitários chegaram a totalizar cerca de dez mil pessoas, e, pequenas gravadoras independentes, nas quais a maioria das vezes o artista financiava a gravação de sua obra e depois se encarregava de comercializa-la.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Tópico extra.
Por decisão do STJ, Arruda é preso pela Polícia Federal
Aproveitando a época de carnaval para parafrasear um famoso e saudoso samba:
"... ainda resta um pouco de esperança..."
SERÁ?
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
O Eterno Metamorfose Raul Seixas
Com o exílio da vanguarda da MPB na década de 70, abriu-se neste momento um espaço para o rock ‘tupiniquim’, surgindo assim as primeiras tentativas de fundir esta influência com a nossa música, a exemplos de produções como a do chamado rock rural, representado por músicos como Sá, Rodrix, e Guarabyra, e o movimento mineiro, Clube da Esquina, o baiano Raul Seixas, o grupo Novos Baianos, e todo um cenário de músicos independentes desenhado principalmente em São Paulo.
O baiano Raul Seixas foi responsável por uma incrível popularização do rock no Brasil, recendo influencias de Luiz Gonzaga a Elvis Plesley, constituiu uma produção musical anárquica, pautada no bom humor e nas críticas ácidas. Recebendo influencias do tropicalismo e da música internacional, fundiu elementos do rock'n roll com todas as variações rítmicas brasileiras, do xote ao baião, ajudando a criar a cara do rock nacional. Sua música "Let Me Sing Let Me Sing" foi uma das classificadas no FIC (Festival Internacional da Canção) de 1972. Logo em seguida é contratado pela Philips, que lança seus primeiros grandes sucessos, “Ouro de Tolo”, “Metamorfose Ambulante”, “Al Capone” e “Mosca na Sopa”. Sua história é percebida através de 21 discos gravados, a propagação da idéia de uma “sociedade alternativa”, que pregava a felicidade no tempo presente, o ser feliz fazendo o que se deseja fazer, esta atitude o levou a ser convidado a se exilar do país, visto que era visto como uma ameaçava a moral e os bons costumes do país dos generais.
Raul dizia que usava a música para expressar o seu pensamento: “Minha fé não muda, tenho minhas convicções, continuo usando a minha música como veículo para as coisas que eu penso. Falo de mim mesmo, tudo que canto ou escrevo é o que acredito. Sou mais um escritor que um músico”.
Raul foi a maior expressão, comercialmente conhecida, da contra cultura brasileira. Seu comportamento anárquico era mais que uma forma de expressar um pensamento, um comportamento artístico, era uma forma de sentir, de viver.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Eu quero uma casa no campo
Os anos 70 sofram marcados, como já mencionei em artigos passados, pela “égide do fim de um sonho, revolução comunitária, mundo igualitário, foram sucumbidos no próprio contexto mundial desenhado pela guerra fria, como exemplo mais próximo; a repressão do bloco capitalista, em vigência até os dias de hoje pelos Estados Unidos, “defensor” implacável da liberdade e da democracia, a Cuba, guerra do Vietnã, a expansão soviética, os atos terroristas do IRA; e num contexto nacional: o acirramento do regime militar, AI-5, perda da liberdade do cidadão, exílio das principais personalidades artísticas e intelectuais de oposição, ou de mera contestação, o aniquilamento das resistências armadas ao regime, as guerrilhas , como a do Araguaia, que teve todos, ou melhor quase todos seus envolvidos executados. Este cenário levou a muitos jovens a buscarem um estilo de vida fora dos padrões estabelecidos pela sociedade, numa tentativa de fuga do “American way off life”, imposto em toda a sociedade moderna ocidental dependente.
Esta busca trilha vários caminhos, ou como alguns acham mais apropriado, várias trips, pois se constituía em uma fuga da sociedade em “comunidades alternativas”, ou na busca de uma libertação individual, seja através do misticismo, principalmente o orientalismo, ou pelas drogas, principalmente as psicodélicas.
Esta atitude de fuga e contestação à sociedade, seu modo de vida, no qual o indivíduo é um mero reprodutor de força de trabalho, bebendo na fonte de Karl Marx, autor bastante lido nas décadas de 60 e 70, sua necessidade de consumo, a imposição cultural pela mídia, lembrando que nos anos 70 a televisão se firmava como o veiculo de comunicação mais importante em “detrimento” ao rádio, recebeu o nome de contracultura.
A contracultura foi um fenômeno mundial, de origem nos Estados Unidos, com as manifestações contra a guerra no Vietnã, expandiu-se pela Europa, e América Latina. O hippismo e um pouco mais tarde o punk são frutos da contracultura. No Brasil observamos manifestações deste movimento em vários setores culturais.
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